Por que ESPERANTO?

Fonte: Livro de L. L. Zamenhof: Essência e futuro da idéia de uma língua internacional.

As grandes invenções e descobertas foram no passado criticadas e ironizadas, e mesmo depois de testadas eram olhadas com desconfiança. Isso ocorreu com a idéia de Colombo atingir o Ocidente, porque ninguém antes havia feito isso. O uso do vapor foi ridicularizado, mesmo depois de circular a locomotiva na Inglaterra, e homens instruidos escreveram tratados sobre a infantilidade de se construirem locomotivas. O sistema métrico somente foi aceito na Inglaterra depois de muitos e muitos anos de sua proposta.

Quanto à adoção de uma língua internacional, houve tempos em que se julgava uma utopia. Hoje questiona-se se não seria o caso de adotar o inglês, embora a língua mais falada no mundo seja o chinês.

Sobre a questão se um dIa será ou não adotada uma língua internacional em todo o mundo, basta pensar nas vantagens que isso acarretará para toda a humanidade. Os meios que estão se criando para a comunicação internacional via Internet comprovam que o uso de uma lingua comum a todos os povos faria a humanidade dar um grande passo à frente. Poder assimilar a cultura de outros povos sem perder tanto tempo em estudar essas linguas (existem mais de 3.000 línguas no mundo!), utilizar uma única lingua na UNESCO, evitando os elevadíssimos custos e os erros de tradução que têm ocorrido com frequência, oferecer a todos uma língua de fácil aprendizado, e enfim dar a todos a possibilidade de se entenderem, sem ficarem como surdos e mudos uns à frente dos outros como ocorre com frequência.

Uma lingua morta como o latim não poderá ser adotada porque não tem possibilidade de interpretar o pensamento moderno, além de ser extremamente difícil.

Pergunta-se: por que não adotar o inglês como lingua internacional. Se isso fosse possível, já teria ocorrido, devido à supremacia econômica dos povos que a utilizam. Já tivemos o exemplo do grego, do latim, do francês, que tiveram seu papel de preponderância transitória e temporaria. Além disso a adoção de uma língua nacional seria rejeitada por muitos povos, por se sentirem em posição de inferioridade.

Outro fato: uma lingua nacional não tem a possibilidade de interpretar a cultura de outros povos, o que não ocorre com uma língua internacional, como pode ser constatado. Costuma-se dizer que cada povo criou sua língua, e que o Esperanto é a única língua que criou o seu povo.

Indaga-se também por que o Esperanto ainda não foi adotado, e quer-se saber quantas pessoas já o falam. Necessário lembrar que essa língua tem apenas 108 anos de existência e sua divulgação tem sido feita à custa do esforço de idealistas, enquanto que os governos pouco têm se interessado em trabalhar pelo futuro. Pelo contrário, os governos acham-se sempre comprometidos com problemas cuja origem foi sua falta de visão do futuro, quando poderiam ser facilmente contornados antecipadamente.

Mas isso não ocorre de modo genérico, embora particularmente no nosso querido Brasil, enquanto que na Alemanha existe o Instituto de Cibernética, da Universidade de Frankfurt, que utiliza o Esperanto em suas pesquisas e leva sua conclusões científicas a outros países através de palestras em Esperanto, inclusive para professores da USP, que, infelizmente, ainda dependem de tradutores. Mas o Centro de Cibernética da USP está tentando reverter esse quadro pois vem divulgando um curso de Esperanto por computador, através da distribuição gratuita desses cursos em disquetes (tel. 818-4081). Além disso na China o Esperanto é ensinado em 13 universidades, e ele é adotado na Academia Internacional de Ciências de San Marino, Itália.

Sua literatura atinge mais de 50.000 obras, abrangendo as mais famosas, além de possuir muitas obras originalmente escritas em Esperanto que estão sendo traduzidas para outras línguas. São realizados congressos universais desde 1905 com a participação de mais de 2.000 congressistas representando cerca de 115 paises, além dos congressos nacionais, estaduais e regionais. Em termos de congressos não existe no mundo nenhum movimento ou ramo da cultura que tenha uma atuação tão ampla e vasta e ainda relevante e vibrante em termos de busca pela paz e confraternização dos povos.

Por outro lado, o Esperanto não pertence a nenhum movimento, quer seja religioso ou político, embora seja utilizado para divulgar idéias e ideais, como dos vegetarianos, de cientistas, de religiosos e de políticos, a exemplo da China que faz largo uso da língua internacional para essa finalidade, através de belíssima revista ilustrada e de livros infantís.

Que o Esperanto será a língua internacional, não temos a menor dúvida. Por vários motivos: pela sua facilidade, precisão, flexibilidade, sonoridade, riqueza, amplitude, regularidade, organização e pelas dimensões que já atingiu entre os povos.

FACILIDADE: todos os substantivos terminam com a letra O. Conservando-se o radical da palavra e substituindo o O pelo A forma-se um adjetivo. Nas línguas naturais não existe regra única para essa finalidade e já aí o Esperanto se mostra mais vantajoso. Portanto, todos os adjetivos terminam em A.

RIQUEZA: O Esperanto possibilita exprimir todas as idéias, e já tem prontas as palavras para cada necessidade. Vejamos: cindro = cinza; cindra = cinéreo; tablo = mesa, tabla = da mesa (não existe em português uma palavra correspondente). Se surgir uma nova profissão, de quem trabalha com o ar, já existe a palavra correspondente, unindo-se o radical de AERO = ar com o sufixo -IST que indica profissão: aeristo. Formam-se verbos derivados de: sol, azul, etc, e com sentido definido.

REGULARIDADE: O artigo definido é LA. Todos objetos e coisas são neutros, nem masculinos nem femininos. LA = o, a, os as. Esse artgo LA economiza vários anos de estudo em relação a muitas línguas. Todos os verbos são regulares. No infinitivo terminam sempre em I. No presente sempre em AS, para todas as pessoas. Isso quer dizer que o leitor já pode conjugar qualquer verbo no presente do indicativo, sem erro. Exemplo; LABORI = trabalhar. Mi laboras = eu trabalho. Vi laboras = você trabalha. Li laboras = ele trabalha. Ni laboras = nós trabalhamos, etc. O passado forma-se com a terminação IS e o futuro com OS. Vê-se aí mais vários anos de economia no estudo da conjugação dos verbos, em relação a outras línguas.

SONORIDADE: a cada letra corresponde um único som. O S conserva o som de SS mesmo entre vogais, o G nunca tem som de J. A língua é sonora no canto e poesia. Todas palavras com mais de uma sílaba têm o acento tônico na penúltima sílaba: são paroxítonas. A língua não é sibilante: o plural é formado de modo suave, com o som de "i" breve, ou seja, a letra J que com esse som forma também ditongos. A ortografia é, portanto, totalmente regular.

FLEXIBILIDADE: a união de radicais permite exprimir idéias com sentido mais preciso, o mesmo ocorrendo por meio de preposições unidas aos radicais das palavras.

PRECISÃO: cada preposição tem um sentido próprio. Vejamos a preposição DE do português, que serve para quase tudo Em: Copo DE vidro - esse DE que dizer: feito de. Em: Copo DE Paulo - indica posse. Em : Falar DE política - quer dizer: a respeito de. Em: Chorar DE dor - significa: por causa de. O Esperanto exige a preposição correta para cada caso, a fim de evitar confusão entre os povos, sendo uma para cada sentido. Há precisão também nos pronomes possessivos, nos particípios e em outros elementos.

AMPLITUDE: todos os povos têm conseguido exprimir seus pensamentos, e familiarizar o Esperanto com sua própria cultura. Quem ouvir as músicas traduzidas do português notará essa peculiaridade: até mesmo o samba conserva o seu ritmo e suas características em Esperanto.

ORGANIZAÇÃO: a organização do movimento esperantista é excelente. Nomeiam-se delegados em cada cidade onde haja um membro disposto a tanto. O anuário JARLIBRO traz o nome e endereço desses delegados. Cada esperantista zela pela integridade da língua, além de existir uma academia formada por grandes linguistas para orientar o desenvolvimento da língua. A Associação Universal do Esperanto, na Holanda, mantém o vínculo de todos os grupos e de todos os esperantistas, organizando os congressos universais. Nenhuma lingua natural satisfaz todos esses requisitos e vantagens.

Surgirá outra língua internacional? A experiência responde: Não. De fato, já foram iniciadas centenas de projetos de línguas internacionais, elaborados por grandes intelectuais, como Leibnitz e Peano. Mas a tarefa é difícil, tão difícil, que dessas centenas apenas dois não desistiram: o padre Schleyer e o Dr. Zamenhof. As dificuldades de conciliar os elementos são tantas, as necessidades estruturais se mostram antagônicas e contraditórias, e a maioria perdeu o fôlego e desistiu. Parecia de início bastar criar palavras novas e construir uma frase que todos entendessem à primeira vista. Esse foi o erro da maioria.

O Volapuque do padre Schleyer foi abandonado logo que surgiu o Esperanto, porque suas palavras eram arbitrárias, como Melop que significa América. Mas como as vogais no início e no fim das palavras têm uma função gramatical, todas as palavras começam e terminam com consoantes, sendo impossível memorizar e distingui-las, a exemplo de: bap, pap, pab, bab, etc., e pior ainda no plural.

Pelo contrário, o Esperanto, que pode parecer difícil à primeira vista, não prejudicou a sua estrutura lógica e regular apenas para parecer simples ante uma leitura superficial. A maior dedicação necessária para aprender o Esperanto é a leitura para assimilar seu vocabulário e seu estilo e forma universais.

Não temos espaço para trazer à luz todos os argumentos contidos no livro já citado: Essência e futuro da idéia de uma língua internacional. Esse livro, e outros similares como os de Walter Francini: Esperanto Sem Preconceitos e Doutor Esperanto podem ser encomendados na Liga Brasileira de Esperanto, Caixa Postal 03625, CEP 70084-970 Brasília DF, tel (061) 226-1298. Também na Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Av. Treze de Maio, 47 slj. 208, CEP 20.031-000 Rio de Janeiro / RJ, tel. (012) 220-7486. Ainda na Associação Paulista de Esperanto, Rua Fáustolo, 124, CEP 05041-000, S. Paulo, SP, tel (011) 62-1183, bem como em muitos dos grupos esperantistas.

O curso de Esperanto por computador também é distribuido gratuitamente pelo Instituto Fraternal de Laborterapia , bastando enviar um disquete, qualquer tipo e 5 selos de primeiro porte, aos cuidados do Esperanto-Laborgrupo, Rua Santo Amaro, 244, CEP 01315-000, S. Paulo, SP.